A inteligência artificial e a proteção de dados – PL 2338

Índice

A PL 2338 trata sobre a regulamentação da Inteligência Artificial, a implementação e uso responsável de sistemas de inteligência artificial (IA) no Brasil, com o objetivo de proteger os direitos fundamentais e garantir a implementação de sistemas seguros e confiáveis, em benefício da pessoa humana, do regime democrático e do desenvolvimento científico e tecnológico (art.1º). O projeto traz ainda fundamentos e princípios essenciais aos sistemas de inteligência artificial, sendo os principais deles:

Fundamentos: a proteção ao meio ambiente e o desenvolvimento sustentável; a igualdade, a não discriminação, a pluralidade e o respeito aos direitos trabalhistas; a livre iniciativa, a livre concorrência e a defesa do consumidor; a privacidade, a proteção de dados e a autodeterminação informativa; o acesso à informação e à educação, e a conscientização sobre os sistemas de inteligência artificial e suas aplicações.

Princípios: Boa-fé; Crescimento inclusivo, desenvolvimento sustentável e bem-estar; participação humana no ciclo da inteligência artificial e supervisão humana efetiva; não discriminação; justiça, equidade e inclusão; transparência; prevenção, precaução e mitigação de riscos sistêmicos derivados de usos intencionais ou não intencionais e de efeitos não previstos de sistemas de inteligência artificial.

Internet Network Security Concept

Proteção de dados e conformidade com a LGPD

A proteção de dados e a autodeterminação informativa, conforme estabelecido pela PL 2338, estão em consonância com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) e o Regulamento Geral de Proteção de Dados (RGPD) europeu. A LGPD, em vigor desde 2020, tem como objetivo principal proteger os direitos fundamentais de liberdade e de privacidade, além do livre desenvolvimento da personalidade da pessoa natural. A legislação exige que as empresas obtenham o consentimento explícito dos titulares de dados, demonstrem o legítimo interesse na utilização de dados, antes de coletar, processar e armazenar suas informações pessoais.

Os sistemas de IA, frequentemente envolvidos na coleta e processamento de grandes volumes de dados pessoais e também sensíveis, devem garantir conformidade com a LGPD ao implementar medidas de segurança e governança de dados. Isso inclui a anonimização e pseudonimização de dados, a garantia de direitos dos titulares, como acesso, correção e exclusão de dados, e a implementação de políticas de privacidade claras e transparentes.

Além disso, podemos destacar dados que podem não se enquadrar na proteção de dados, mas devem ter proteção como informações comerciais, industriais sigilosas como informações empresariais.

Middle aged man working in a home office and using laptop and paper documents

Documentos importantes para a adequação, segundo a PL 2338

LIA (Legitimate Interests Assessment) LGPD e RIPD (Relatório de Impacto à Proteção de Dados Pessoais):

A PL 2338 destaca a importância de avaliações de interesse legítimo (LIA) e relatórios de impacto à proteção de dados (RIPD) como documentos cruciais para a adequação dos sistemas de IA às normas de proteção de dados.

  • LIA: Este documento avalia se o processamento de dados pessoais baseado em interesses legítimos é necessário e proporcional, garantindo que os direitos e liberdades dos titulares de dados não sejam prejudicados. É um requisito fundamental para assegurar que o uso de IA respeite os princípios de necessidade, finalidade e minimização de dados.
  • RIPD: O Relatório de Impacto à Proteção de Dados Pessoais é uma avaliação detalhada dos riscos que o processamento de dados pode representar aos direitos e liberdades dos indivíduos. Ele deve incluir a descrição das operações de tratamento de dados, a avaliação da necessidade e proporcionalidade das operações, a identificação dos riscos para os titulares e as medidas para mitigar esses riscos.

Os Benefícios da IA na proteção de dados

A inteligência artificial oferece várias vantagens na proteção de dados:

  • Automatização de Processos: A IA pode automatizar a detecção e resposta a ameaças de segurança, aumentando a eficiência e reduzindo o tempo de resposta a incidentes.
  • Análise Preditiva: Algoritmos de IA podem prever e identificar padrões de comportamento que indicam riscos de segurança, permitindo ações preventivas.
  • Detecção de Anomalias: Sistemas de IA são capazes de monitorar grandes volumes de dados em tempo real e identificar anomalias que poderiam passar despercebidas por sistemas tradicionais.
  • Criptografia Avançada: A IA pode ajudar a desenvolver e implementar técnicas de criptografia mais robustas, protegendo melhor os dados contra acessos não autorizados.
A man interacts with artificial intelligence to optimize and automate computing.

Próximos passos da IA no âmbito jurídico

Recentemente, o PL n° 2338 recebeu críticas pela falta de profundidade sobre temas relevantes, como a proteção de dados. Criado com base no anteprojeto previamente estruturado pela comissão de juristas, o texto atual destaca pontos específicos sobre a utilização ética e responsável da ferramenta, mas ainda é conflitante com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). Visto que, para funcionar adequadamente e realizar os serviços esperados, a Inteligência Artificial costuma lidar com uma grande quantidade de dados (muitas vezes pessoais e sensíveis), é necessário que o texto ofereça um maior equilíbrio entre os temas.

Os próximos passos envolvem uma revisão e aprofundamento das disposições relacionadas à proteção de dados, garantindo que a regulamentação da IA esteja completamente alinhada com a LGPD. Isso pode incluir a incorporação de diretrizes mais detalhadas sobre a segurança de dados, a obrigatoriedade de auditorias regulares de conformidade e a criação de um órgão regulador específico para monitorar o uso de IA. Além disso, é essencial promover a educação e a conscientização sobre a importância da proteção de dados tanto para desenvolvedores quanto para usuários de sistemas de IA, assegurando uma implementação ética e responsável da tecnologia.

Ao garantir a conformidade com as normas de proteção de dados e ao abordar as críticas levantadas, a PL 2338 pode se tornar um marco significativo na regulamentação da inteligência artificial no Brasil, promovendo um ambiente seguro e confiável para o desenvolvimento e uso dessa tecnologia emergente.